sexta-feira, 10 de julho de 2009

API de Integração de Dispositivos: Limitações

Uma das maiores inovações do middleware brasileiro Ginga é, certamente, a integração entre dispositivos móveis e o receptor de TV Digital. Ela é viabilizada pela inclusão de novas interfaces de rede no set-top box que interagem com dispositivos domésticos. Esta rede doméstica é chamada de Home Area Network, e é capaz de integrar tecnologias de rede como Wi-Fi, Bluetooth, Ethernet, USB, entre outros.

O apêndice E do projeto de norma 00:001.85-006/4 (2° Projeto), de título “Televisão digital terrestre — Codificação de dados e especificações de transmissão para radiodifusão digital — Parte 4: Ginga-J — Ambiente para a execução de aplicações procedurais” especifica como será o seu uso, através de uma nova API.

A comunicação do receptor com dispositivos móveis pode ser efetuada através da API de Integração de Dispositivos. Para tanto, os dispositivos móveis devem possuir um módulo do Ginga para gerenciar o protocolo de comunicação. Precisam também estar registrados no Ginga.
A maior vantagem da proposta desta API é a integração de aplicações em execução (Xlets) com dispositivos móveis. Esta integração é importante e indubitavelmente deve existir. Contudo, outras idéias podem ser incorporadas através de uma maior exploração dessas novas interfaces de rede existentes.

Devido ao custo adicionado pela incorporação de novas interfaces de rede, a compra de receptores que possuam a integração com dispositivos móveis só será efetuada pelos consumidores se os benefícios que ela traz forem suficientemente altos para compensar o seu valor. Desta forma, todas as possibilidades de inovação precisam ser exploradas.

Para tentar explicar melhor, vamos tomar como base as possibilidades e limitações da arquitetura atual:
Imagine que um programa como o Big Brother Brasil esteja passando na TV em um determinado momento. Neste momento, uma aplicação (Xlet) pode estar sendo executada, solicitando aos usuários qual dos participantes eles desejam eliminar. Esta aplicação poderá buscar os dispositivos móveis registrados com o Ginga e solicitar que a votação apareça no display dos celulares e outros dispositivos móveis, para que em cada dispositivo um usuário registre o seu voto unicamente. Para isso, eles precisam ter um módulo móvel instalado, responsável por se registrar no receptor e renderizar a tela de acordo com um protocolo. Interessante esta possibilidade? Sim! A API de Integração de Dispositivos deve existir com certeza!

Contudo, se temos comunicação entre receptor e canal de retorno e também entre dispositivos móveis e receptor, porque não utilizar o receptor como gateway para acessar todo e qualquer servidor possível via canal de retorno? Com isso, qualquer empresa poderia disponibilizar aplicações que utilizam o receptor como ponto de acesso à Internet. Qual o ganho com isso? Alguns deles estão listados abaixo:
a) A aplicação móvel é totalmente customizada pela empresa em questão;
b) Adiciona novos mercados à operadoras de TV e empresas;
c) Provê novas formas de entretenimento para o usuário;
d) Desonera a comunicação entre usuário e a operadora de TV, pois não necessita das operadoras de telefonia como canal de retorno para aplicações móveis;
e) Não limita a execução da aplicação móvel enquanto o canal se mantém ativo. Isso quer dizer pode haver mudanças de canais a qualquer momento sem a interrupção da aplicação móvel atual;
f) Aplicativos podem ser executados mesmo na inexistência do sinal da operadora de TV, desde que o canal de retorno esteja ativo; e
g) O link entre dispositivo móvel e canal de retorno é efetuado a qualquer momento e para qualquer destino, independente da existência de Xlet em execução no receptor.

Como exemplo, o acesso à Internet via receptor de TV poderia ser efetuado pelo dispositivo móvel a qualquer momento, seja via Bluetooth, Wi-Fi, entre outros. Celulares poderiam vir com aplicações que utilizam o receptor como ponto de acesso à Internet. Além de aplicações móveis customizadas, com protocolos proprietários, qualquer aplicação que utilize procotolos padronizados como browsers, clientes de e-mail, ftp, leitor RSS, entre outros, poderia utilizar essa infra-estrutura.

Não há a necessidade de nenhum hardware adicional além dos já existentes para a integração com dispositivos móveis, ou seja, toda a implementação pode ser efetuada em software.

Certamente o custo dos receptores que possuem integração com dispositivos móveis será maior do que os que não as possuem, justamente pela adição dos novos hardwares de rede. Com as possibilidades atuais de interação da API de Integração de Dispositivos, particulamente acredito que a adoção só será razoavelmente alta se a diferença de preço for bastante pequena. Adotando novas possibilidades, agrega-se valor ao produto e, consequentemente, mais usuários estarão dispostos a pagar um valor um pouco maior.

A próxima semana será crucial para a aprovação da norma. A data limite para envio de comentários à consulta pública da ABNT é 17/07. Esta e outras possibilidades foram enviadas à ABNT, para análise. Observem que não temos intenção de criticar arbitrariamente a norma que está sendo votada. Apenas queremos explorar ao máximo essa inovação do Ginga.

Detalhes de outras limitações da abordagem atual do SBTVD serão exploradas em novos posts.

Um comentário:

  1. Olá,
    Estou bem por fora desta parte de tv digital para mobile. No entanto, gostaria de saber se esta alternativa de usar o receptor como gate way é apenas uma alternativa, se é o que está sendo mais focado atualmente ou se existem possibilidades mais ousadas como embutir o middleware diretamente no celular , um ginga mobile da vida?

    abraço,

    jp

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